LXXVIII
Com esta entrevista finaliza-se esta secção (8 entrevistados) que será retomada em Setembro.
Conta-nos como aconteceu a descoberta do Xadrez. Quem te despertou o interesse para o mundo mágico das 64 casas?
Eu descobri o xadrez numa simultânea dada pela Ariana Pintor na minha escola. Depois fiquei cerca de um mês e meio nos Gambozinos. Finalmente encontrei o G.D.D.F. onde me fixei até agora.
Depois desta fase inicial, como foram os primeiros passos no sentido de melhorares o teu xadrez?
Primeiramente aprendi os princípios de jogo com o ``mestre Vitorino´´ mas depois de começar a frequentar torneios, a prática ensinou-me tudo. Mais recentemente comecei a frequentar as aulas do "Sensei" António Caramez Pereira.
Como manténs o teu nível técnico?
Mantenho o meu nível técnico estudando o jogo essencialmente em três partes: táctica, estratégia e finais. Assim consigo entender um pouco melhor o jogo a cada dia que passa.
Qual o livro que consideras fundamental para um bom jogador de xadrez?
Considero fundamental o livro ``Mi Sistema´´ de Aaron Nimzovitch e o ´´How to play chess endings´´ de Znosko-Borovsky.
De que maneira definirias o teu estilo de jogo?
No meu ver sou apenas um jogador de xadrez.
Jogo posições a explodir e simples manobras estratégicas com a mesma aplicação.
Quais os principais resultados de tua carreira?
Os meus melhores resultados foram os meus dois torneios de Cucujães e o 1º lugar alcançado no Campeonato Distrital de Jovens Sub 14 2007, bem como o Nacional Jovem de Semi-Rápidas 2007.
Quais os objectivos no xadrez para este ano e projectos a longo prazo?
Ainda este ano gostaria de atingir a marca de 1950 de elo fide. Nos próximos anos gostaria de ganhar o Nacional Jovem e de melhorar o meu jogo até a marca de 2300 de elo fide e consequente titulo de MESTRE FIDE.
Quem são os teus jogadores preferidos? No passado e no presente...
O jogador por quem tenho mais admiração é José Raul Capablanca.
Presentemente admiro bastante Vassily Ivanchuck.
Segue-se agora a partida analisada por Jorge Viterbo Ferreira disputada no passado mês de Agosto.
Carlos Aguiar (1965) – Jorge Ferreira (1850)
3ª Divisão – Finalíssima, Gx Alekhine B – GDDF B, Évora 2007
Esta partida ilustra bem o poder de um par de bispos, além de algumas considerações posicionais correlacionadas com este tema.
1. e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4. Cxd4 Cf6 5.Cc3 a6 A Siciliana Najdorf, uma abertura muito popular, talvez a mais popular das variantes da defesa Siciliana, conhecida por aliar um agudo jogo táctico, como no ataque inglês ou na linha 6.Bg5,com um profundo jogo posicional como nas linhas como 6.Be2.Esta abertura foi a preferida de muitos jogadores de topo, entre eles os campeões mundiais Fischer e Kasparov, e os candidatos Lev Polugaevsky e Viktor Kortchnoj.Hoje em dia é jogada por jogadores como Gelfand, Leko, Shirov, etc.
6.Bc4 O lance favorito de Fischer.Pode variar para o ataque Sozin, com uma construção com Be3,f4,0-0,etc, ou para o ataque Velimirovic com Be3,f3,De2 e 0-0-0.
6. … e6 7.Bb3 Um lance profiláctico evitando b5,com ganho de tempo, e b4 ganhando o peão central de e4.Outra alternativa muito jogada é 7. 0-0.
7. … Cbd7 Um lance extremamente útil. O cavalo dirige-se a c5 de onde mantém uma pressão extremamente desagradável no Bispo branco em b3 defende e6 e ainda ataca o ponto e4.Apenas vantagens! No entanto o aspecto negativo deste lance é que gasta dois lances, o que numa abertura tão táctica como esta pode ser decisivo. Este lance muito interessante foi favorecido muitíssimo pelo ex-campeão mundial Garry Kasparov.
8.Be3 A linha principal é 8.f4 com interessantes complicações.
8. … Cc5 9.f3 Bd7 O desenvolvimento normal deste bispo é por b7 após b5. No entanto na altura desta partida ainda não conhecia o lance 8.Be3 e decidi desenvolve-lo para d7 controlando a4 após b7-b5-b4 seguido de a7-a5-a4 começando um ataque na ala de Dama após a continuação normal de De2 e 0-0-0,no estilo do Velimirovic.No entanto o meu adversário ainda tinha uma surpresa guardada para mim.
10.0-0 Uma continuação calma de desenvolvimento que não promete nenhuma vantagem ás brancas. Muito mais agressivo era 10.De2 e 11.0-0-0.
10. … b5 11.Dd2 ?! Muito melhor era 11.De1 trazendo desde já a dama para a ala de rei. Após 11.De1 Be7 12.Dg3 Ch5 (12. … 0-0 ?! 13.Bh6 Ch5 14. Dg4 e5 15.Cf5(15.Dxh5? exd4 ataca as duas peças)15. …g6 16.Bxf8 Rxf8 17.Cd5 traria complicações desnecessárias.) 13.Dh3 g6 14.g4 e5 15.Cde2 Cg7 16.Bh6 0-0 +=\=.11. … Be7 12.Df2 Apercebendo-se do erro.
12. … 0-0 13.Rh1 13. Dg3 Rh8 não teria sentido.
13. … Rh8!? Um lance profiláctico que retira todas as ameaças imediatas ao rei negro antes de começar o seu próprio contra jogo na ala de Dama e no centro. Melhorar ao máximo a posição de suas peças antes de forçar algo é chave para que os empreendimentos tenham força e tragam frutos.Neste caso o tempo perdido é compensado pelos tempos perdidos pela dama branca.
14.Cde2 b4 15.Cb1 As brancas querem jogar agora nas casas brancas na ala de Dama. Esta é uma manobra típica em que o cavalo de Dama volta à sua casa inicial e se dirige a d2 de onde controla c4 e por vezes e4.
15. … Dc7 16.Bxc5 dxc5 Com esta última troca as brancas trocam o par de bispos, factor determinante na decisão da partida, pela casa c4,já que tornou o peão c negro isolado e portanto a casa em sua frente débil.
17.Cd2 a5 18.Bc4?! Mais lógico seria 18. a4 continuando com o seu plano. Como disse Capablanca nos seus dias um plano elaborado deve ser realizado religiosamente até ao fim.
18. … a4 Não dando uma segunda oportunidade ás brancas.
19.Tfd1 Bc6! Prepara agora a manobra Cf6-d7-e5(b6) conquistando o par de bispos contra ‘par’ de cavalos. Li algures que a força do par de bispos é que podem ser trocados numa altura vantajosa. Há algumas semanas li num artigo de Karsten Muller uma definição muito mais adequada. Li lá que a diferença entre um par de Bispos e um par de cavalos é o facto de este ultimo não ser um par. Não existe um par de cavalos porque os dois cavalos são idênticos, ou seja não há nada que um possa fazer que o outro não possa, no caso dos bispos é diferente já que a grande limitação do bispo é que só controla casas de uma cor. Logo se tiver um bispo de casas negras o bispo de casas brancas é mais forte do que se não possuísse o bispo de casas negras porque vê uma das suas grandes limitações reparadas. Logo pode ser considerado um par.
20.Cf1 Cd7 21.Ce3 Ce5 22.Cg3 Cxc4 23.Cxc4
Chegamos à primeira posição crítica do jogo, neste tipo de posições costumo fazer uma série de exercícios que me ajudam a delinear um plano. Primeiro, quais são as trocas que me favorecem? Tirar as duas torres do tabuleiro seria bom para as brancas porque a posição das pretas perde flexibilidade. A dupla dama e cavalo é melhor do que a de dama e bispo porque o cavalo controla casas das duas cores. Claro que as negras possuindo o par de bispos isto é irrelevante, mas perderiam a liberdade de o trocar o que é, como antes referido, importante no par de bispos.
Por tanto não devo trocar as duas torres. Retirar as damas do tabuleiro será bom para mim por razões inversas, ou seja a dupla bispo e torre é superior à de cavalo e torre. Logo posso trocar de damas. Depois, quais são as casas ideais para as peças no tabuleiro, repare-se que é extremamente difícil encontrar boas casas para as peças brancas enquanto para as pretas todo é muito fácil : o bispo de casas brancas dirige-se a b5 e o de casas negras a f6 e eventualmente a d4,a torre de rei a d8 e a de dama pode ficar em a8 já que eventualmente esta coluna será aberta. E por ultimo quais são as peças mais activas do meu adversário? Neste caso apenas a torre em d1,logo trocar a torre em f8 pela em d1 é vantajoso para mim. Agora só tenho de elaborar um plano com base no resultado da minha pesquisa. Posso trocar a torre de rei mas não as duas, posso trocar as damas, activo os bispos nas diagonais abertas a6-f1 e f6-b2, e ademais tento manter o centro aberto já que possuo os bispos que são mais fortes que os cavalos em posições abertas mas não em fechadas.
23. … Bb5 24.Ce3 Bf6 25. Tab1 Tfd8
As peças já estão activas, agora a vantagem das negras é clara.
26.f4 As brancas tentam fechar o centro com e5,no entanto como mostrado na partida este plano não resulta plenamente.
26. …Txd1+ 27.Cxd1 Bd4 28.Ce3 Ba6
As brancas ameaçavam 29.c3 obrigando-me a trocar o meu par de bispos.
29.e5 f6! Abrindo novamente o centro, agora a pressão dos bispos negros é irresistível.
30.exf6 gxf6 31.Ce2?! Muito mais tenaz é 31.f5,o meu adversário cede à pressão dos bispos negros.
31. … Bxe2 32.Dxe2 Dxf4 Agora com o peão a mais é uma questão de técnica.
33.Cf1 De5 34.Df3 Tg8 35.b3 Dd5 36.Cd2 Dxf3 37.Cxf3 e5 38.Cxd4 exd4 39.Te1 axb3 40.axb3 Ta8 41.Rg1 Ta2 42.Tc1 Rg7 43.h3 Rg6 44.Rh2 Rf5 45.Rg3 Re4 46.Te1+ Rd5 47.Tc1 c4 48.Rf4 c3 49.g4 d3 50.cxd3 Rd4 51.Te1 c2 52.Rf5 Rxd3 53.Tf1 Rd2 54.Rxf6 Ta6+ Se c1=D 55.Tf2+ e as brancas têm torre por dama.
55.Rg7 Ta7+ Não havia razão para permitir a captura do peão h7. 0-1
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