2013/08/25

DLXV

XV OBERT INTERNACIONAL SANT MARTÍ
CRÓNICA DE LUÍS SILVA

PARTE III


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Soluções aos exercícios (PARTE II):
EXERCÍCIO 3: O tema aqui presente é que 1 peão passado de um lado contra 2 peões passados conectados do lado oposto costuma ser empate caso os reis estejam perto do peão passado do lado defensor. Isso permite que a nossa torre e rei consigam atacar o rei inimigo e assim conseguir avançar o peão. Estes finais de torre exigem muito cálculo e basta mover a posição de um peão que a avaliação é alterada completamente. Na partida joguei 47.Tc7 e após 47…Txg4+ posso desistir. No entanto 47.Txc3 Tc4 (47…b4 48.Tc7 g5 49.hxg5+ Rxg5 50.Tg7+ Rf6 51.Tb7 com um final empatado) 48.Td3! ameaçando Td7 48…Tc7 49.Td6 a4 50.Tb6! Tc3+ 51.Rg2 Tb3 52.h5 Tb4 53.Txg6+ Rh7 54.Ta6 Txg4+ 55.Rh3 Td4 56.Ta5 Tb4 57.Ta6! E é impossível às negras fazerem progresso.

EXERCÍCIO  4:  O paradoxal 14…Bg4! resolve os problemas das negras. Agora o cavalo em h4 não tem futuro. O melhor será jogar Cf3 de novo e tenho agora a hipótese de jogar 15…Bh5 ou 15…Tc8/e8 com excelente posição.

EXERCÍCIO  5:  14.Ccb5! E a vantagem posicional começa a aumentar e entra já em grandes domínios. Seguiu-se 14…Ce5 15.Tc1 d6 e agora 16.b4 consolidou a grande vantagem. O cavalo em a6 não tem futuro e o peão em c7 necessita de constante proteção.
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PARTE III

Iria agora enfrentar um cubano naturalizado espanhol: IM Lorenzo De La Riva. Estes jogadores são conhecidos pelo seu xadrez agressivo. Uma Najdorf de 6.Bc4 seria o mais provável, sendo que 6.Bg5 também estava nas contas. Contra isto não havia problema. A ameaça vinha de outro lado, mais concretamente dentro de mim. O facto de ser possível fazer norma começava a dispersar as minhas atenções. Comecei a fantasiar e estando sozinho nunca há alguém que me acorde e me diga para focar no essencial. Fui ao jogo e sentei-me, mas eu não estava lá. Jogamos uma Najdorf onde ele meteu 6.Bg5. Fiquei bastante bem e tinha boas hipóteses. 

EXERCÍCIO 6- Qual a melhor continuação para as negras?

Mas quando não se está focado, se joga com bastante rapidez e não se calcula decentemente acontece sempre o pior. Perdi uma qualidade de uma maneira bastante infantil. E foi fácil para o meu adversário.  Este jogo deitou-me abaixo por completo. Perdi não por ter jogado conscientemente mal, mas sim por não estar lá. O que me alegrou mais foi o facto de que fazer norma era agora quase impossível. Teria de fazer dois pontos em três possíveis: tarefa hercúlea dada a qualidade dos jogadores do torneio. Assim fiquei mais aliviado por não ter a mente ocupada pela ideia da norma. Mas não estava muito confiante: iria jogar de novo com peças negras e desta feita contra um jogador bastante sólido que não costuma facilitar quando enfrenta adversários teoricamente mais fracos e que detém um elevado conhecimento das linhas principais da teoria de aberturas. Ao preparar-me para o jogo reparei que era quase certo que jogassemos uma Najdorf de 6.Be2 ou de 6.a4, linhas que se primam pela solidez e pela tentativa de controlar ao máximo o contrajogo das negras. De notar que o meu adversário tem estes dois lances em exclusivo contra a Najdorf e que contra a Siciliana tinha até à altura jogado sempre a Variante Aberta. De seguida está a partida comentada em detalhe, pois considero-a como o grande ponto do meu torneio.

Perpinya Rofes,Lluis Maria IM (2400) - Silva,Luís (2218)
XV Obert Internacional Sant Martí (7.22), 19.07.2013

1.e4 c5 2.Cc3 [Este lance não é aquele que as brancas costumam jogar quando pretendem entrar na Siciliana Aberta. No entanto, podem sempre jogar Cf3 de seguida e d2–d4 transpondo. Esta ordem é jogada por aqueles que tentam enganar os seus adversários no jogo das transposições e foi isto que pensei que Perpynia fosse fazer.]

2...a6!? [Lance interessante. Em caso de 3.Cf3 as negras jogam 3...d6 e se 4.d4 cxd4 5.Cxd4 Cf6 estamos na Najdorf. Se as brancas pretenderem manter-se no domínio das sicilianas fechadas eu ganho contrajogo rapidamente na ala de dama com b5.]

[2...Cc6 3.Cf3 Neste caso, para não jogar uma siciliana diferente da Najdorf, terei que fazer o lance 3...e5 que não é do meu agrado.; 2...d6 O problema com este lance é que 3.f4 mantém o jogo no domínio dos Ataque Grand Prix onde d6 não é o mais desejado uma vez que o plano principal das negras passa por jogar e6 e d5. (3.Cf3 Cf6 4.d4 cxd4 5.Cxd4 a6 Estamos na Najdorf.) ]

3.f4 [Esta sim foi a verdadeira surpresa. Nunca esperaria que um adversário que sempre se primou por jogar linhas principais entrasse numa anti-siciliana. Interpretei este lance da seguinte maneira: 1) Mudou drasticamente a sua linha de jogo contra mim quando nunca o tinha feito. 2) A razão para o ter feito foi, provavelmente, por eu ter demonstrado excelente conhecimento teórico na Najdorf neste mesmo torneio. 3) Então o meu adversário teve um ligeiro medo de mim/do meu conhecimento e está a entrar em território que não é a sua zona de conforto. 4) A minha confiança subiu pelo respeito demonstrado e o nível escaquístico de Perpinya caiu substancialmente por estar em território não usual.]

3...b5 4.d4!? cxd4 5.Dxd4 Cc6 6.Df2 [E então foi isto que o meu adversário tinha planeado, uma linha que me coloca com um problema estratégico que tem de ser resolvido com celeridade. Provavelmente esperaria apanhar-me desprevenido uma vez que além de ele nunca ter jogado uma anti-siciliana esta é daquelas que quase ninguém conhece. O que me valeu foi que umas 2 semanas antes do jogo estive a analisar esta variante e lembrava-me do problema que enfrentava e das ideias para o resolver. O principal problema é o Cg8. Como é que o vou desenvolver? Sempre que Cf6 as brancas respondem com e4–e5 e o cavalo fica apenas com a casa de g4. Esta casa raramente é estável e quando o cavalo saltar para lá terei que jogar h7–h5 na maioria das vezes, o que pode não ser desejável uma vez que enfraquece a ala de rei (residência provável do meu rei). No entanto esta hipótese nunca está completamente descartada visto que Cf6 e o posterior Cg4 ataca sempre a Df2 e taticamente pode-se justificar esta manobra. A outra ideia passa por jogar Cc6–b4 e Cg8–f6 para que quando haja e4–e5 seja possível jogar Cf6–Cd5. Isto era o que sabia da posição à entrada do jogo visto que não revi as minhas análises sobre qual a ordem mais concreta para ficar com posição aceitável.]

6...Bb7?! [É de conhecimento geral que este lance terá que ser feito. Tem a desvantagem de dar a opção da partida às brancas, algo que 6...e6 não dá. Seguem-se algumas variantes ilustrativas de como poderia decorrer o jogo:]

[6...e6! 7.Bd3 (7.Be3? (Tal como na partida) 7...Cf6! 8.e5 Cg4 9.Dg3 Cxe3 10.Dxe3 d5³ Com posição de sonho para as negras.) 7...Bb7 8.Cf3 (8.a3 Direcionado contra o plano de Cc6–b4 e Cg8–f6 8...Cf6 9.e5 Cg4 10.Dg3 b4! Com energia as negras conseguem ir tomando a iniciativa. 11.axb4 h5 Uma vez que a ala de dama está bastante aberta, o rei das brancas também não tem lugar seguro. Assim h7–h5 justifica-se visto que as brancas não têm possibilidade de serem ativas no centro nem na ala de rei. 12.h3 Ch6 13.b5 axb5 14.Txa8 Bxa8 15.Cxb5 Cb4 16.Ce2 h4³ As peças brancas estão completamente descoordenadas.) 8...Cb4 9.Be3 Cf6 10.h3 Be7 11.0–0 0–0 12.a3 Cxd3 13.cxd3 d6 Par de bispos e ausência de fraquezas dão às negras um bom jogo. O espaço não é problema porque já foi trocada uma peça o que alivia o possível congestionamento que a estrutura de peões poderia provocar. 14.g4 As brancas demonstram agressividade mas a posição das negras é bastante dificil de atacar. 14...Tc8 15.Tac1 (15.g5 Cd7 16.f5? exf5µ 17.exf5 Bxf3 18.Dxf3 Bxg5) 15...Cd7 16.g5 (16.d4 f5³ 17.d5 Cc5 18.Cd4 (18.Bxc5 dxc5µ) 18...exd5 19.exf5 Cd3 20.Dd2 Cxc1 21.Txc1³) 16...Cc5 17.De2 d5³ Como mandam as leis: ataque na ala contratacado por um ataque no centro. 18.exd5 (18.e5? Cb3–+ Com d4 de seguida caso a Tc1 fuja.) 18...Cb3 19.Tc2 Bxd5 20.Ce4 Da5µ]

7.Be3! e6 [7...Cf6 Outra opção válida. 8.Be2 e6 9.Bf3 (9.e5 Cb4! (9...b4!? 10.exf6 bxc3 11.fxg7 Bxg7 12.b3 Cb4 13.Bf3 Dc7=) 10.exf6 (10.Bd1 Cfd5³) 10...Cxc2+ 11.Rd2 Cxe3 12.Dxe3 Bxg2 13.Bf3 (13.fxg7 Bxg7 14.Bf3 Bxh1 15.Bxh1 Tc8–+) 13...Bxh1 14.Bxh1 Tc8 15.Bb7 Tb8 16.Bxa6 Dxf6‚) 9...d6 Com uma posição típica de siciliana onde as negras conseguiram b7–b5 sem problemas.]

8.Bb6 [8.0–0–0 Cf6 9.Bb6 (9.e5? b4!³ 10.Bb6?? (10.Ca4 Cg4 11.De2 Cxe3 12.Dxe3 Ce7³) 10...Cg4–+) 9...Db8 Transpõe para a partida]

8...Db8 9.0–0–0 Cf6! 10.Bd3?! [Permite uma boa continuação que não foi jogada.]

[10.e5!? Cg4 11.De2 Bc8! É por este motivo que Cf6 funciona! O Bb6 não tem casas onde a sua captura não seja possível e assim, em troca de algum tempo, as negras ficam com a vantagem do par de bispos, sendo que o de casas negras fica sem oposição (complexo de cor onde eu estou mais debilitado devido à configuração da estrutura de peões). Assim a posição está já numa igualdade com tendência à minha vantagem caso as brancas não sejam energéticas, uma vez que a compensação que as brancas obtêm pela perda desta peça é de caráter temporário/ dinâmico e o seu aproveitamento é sempre bastante difícil, ainda por cima o meu adversário tem preferência (tal como eu) por vantagens de caráter mais estático e prolongado. 12.Bc5! Assim ganhará tempo no futuro com Cc3–e4 e após Dxg4 ataca g7. 12...Bxc5 13.Dxg4 Agora há 3 opções todas elas interessantes. 13...Bf8!? Não cria fraquezas mas incentiva as brancas a demonstrarem mais atividade.

a) 13...0–0!? Sem dúvida o mais perigoso. O rei não tem de momento qualquer peça que o proteja. 14.Ce4 Be7 15.Cf6+ Rh8 16.Cxd7 (16.Td3! Cxe5 Única solução adequada. 17.fxe5 Dxe5 18.Ch5 (18.Cxd7 Bxd7 19.Txd7 Tfd8 (19...Bf6 O mais correto parece ser a seguinte linha: 20.c3 b4 21.Cf3

a1) 21.Dxb4?? Tab8–+ Com ataque imparável;

a2) 21.Bd3 De3+ 22.Rb1 (22.Rc2 bxc3 A posição da dama em e3 ou e1 não altera em nada) 22...De1+ 23.Rc2 bxc3 24.Dd1 Df2+ 25.De2 Dc5 26.b3 Da3 27.Rd1 Tad8 28.Txd8 Txd8 29.Cf3 Dd6! Força a que o rei branco fique em c2 onde pode ser atacado por Da3–Db2. Qualquer outro lance permite Dc2 e Re2. 30.Rc2 a5ƒ As peças brancas estão imóveis. Com a5–a4 e Da3 o ataque prossegue.; 21...De3+ 22.Rb1 bxc3 23.Bd3 Tab8 24.b3 Tb7 25.Td6 Tb6=) 20.Cf3 De3+ 21.Td2 Tac8 As negras têm um ataque muito interessante. 22.Rd1! f5 23.Dg3 Txd2+ 24.Cxd2 Dd4 25.Bd3 Dxb2 26.Te1 A compensação não me parece suficiente.) 18...g6 19.Cg3 f5 20.De2 Dg7 Com compensação tremenda pela peça: Bf6 de seguida e consequente mobilização do centro, o rei das brancas estará sob um forte ataque. Além disso as peças brancas dificilmente sairão das casas iniciais.) 16...Bxd7 17.Txd7 Db6 Em troca de um peão as negras têm controlo das casas negras e uma vantagem em desenvolvimento enorme.;

b) 13...g6 Cria fraquezas nas casas negras mas como a minha vantagem reside principalmente em ter o bispo que controla este complexo de cores, a opção de 13...g6 é justificável e provavelmente será o melhor lance e aquele que escolheria na partida 14.Ce4 Be7 15.De2 A dama estava mal colocada em g4. 15...Bb7 16.Cf3 Dc7 17.Rb1 Cb4 18.c3 Cd5 19.g3 Dc4=; 14.Ce4 Bb7 O rei está confortável no centro do tabuleiro e tem sempre a opção de rocar grande. No entanto prefiro deixar o rei no centro do tabuleiro e lançar contrajogo rapidamente na coluna "c". Além disso as brancas não conseguem desenvolver muito bem as suas peças. 15.Cf3 h5! Desviando a dama da quarta linha permitindo o seguinte golpe tático. 16.Dg3 Cxe5! 17.Cxe5 Bxe4 18.Txd7 Ta7 19.Bd3 Txd7 20.Cxd7 (20.Bxe4 Td6 21.Bc6+ Txc6 22.Cxc6 Dc7 23.Ce5 g6=) 20...Rxd7 21.Bxe4 Bd6 22.Td1 (22.Tf1 g6=) 22...Re7= As brancas aproveitaram com rapidez e a posição encontra-se equilibrada visto que é impossível para as brancas realizarem qualquer tipo de ação ofensiva.]

10...Cg4?! [Faz uso da minha ideia original. A posição está dinamicamente igualada mas era possível lutar por mais com 10...Cb4.]

[10...Cb4! Transforma a posição de maneira favorável para mim. 11.Rb1 Be7 12.Bd4 Cxd3 13.cxd3 0–0 Era outra opção. As negras estão muito confortáveis. Não joguei isto porque, por alguma razão, pensei que o peão teria que ir para d5 e assim teríamos a estrutura de uma francesa que gosto de jogar com as brancas. Apesar dessa estrutura não ser má para as negras é, neste caso, ainda melhor devido a não haver bispo de casas brancas para o primeiro jogador. Mas mesmo assim o meu peão pode estar confortavelmente em d7 o que eliminaria qualquer problema de preferências estruturais.]

11.Df3 Bc8 12.Be3 Cxe3 13.Dxe3 Da7! 



[Concluída a operação iniciada com 10...Cg4, tenho uma excelente posição devido às boas perspetivas nas casas negras. No entanto ainda tenho que desenvolver o Bc8 e o Bf8 e descobrir a melhor residência para o meu rei.

13...g5?! Este lance foi-me apontado pelo meu adversário após o jogo. Sem dúvida que é interessante e dá-me um controlo extra nas casas negras. No entanto não me parece que a posição necessite de algo tão extremo como o sacríficio de um peão. Ainda por cima o meu rei fica mais desprotegido. 14.fxg5 h6 (14...Ce5 15.Cf3 h6 16.h4 hxg5 17.hxg5 Txh1 18.Txh1 Bb7 Não me convence a posição das negras.) 15.g6! fxg6 16.e5 Dxe5 17.Bxg6+ Rd8 18.Db6+ Dc7 19.Df2 Be7 A posição das negras parece-me perigosa.]

14.Dg3 Bb7?! [O meu desejo era rocar grande e lentamente usar o par de bispos. No entanto não avaliei bem as possibilidades do meu adversário e assim o meu plano saiu mal. Agora as brancas conseguem retirar o resto das peças facilmente. O que aconteceu aqui foi que sobrevalorizei o valor do par de bispos. O que realmente interessa numa posição é a qualidade das peças. De nada me vale um par de bispos com potencial quando as peças do meu adversário têm uma qualidade muito superior e me impedem de concretizar qualquer tipo de ação que contribua para o desenvolvimento desse potencial.]

[14...b4! 15.Cce2 (15.Ca4 Cd4 Seguindo-se Bb7 e Bc6 as negras têm a iniciativa.) 15...a5 Com boa iniciativa.]

15.Cf3 h6 [Para conseguir fazer roque grande é necessário este lance.]

16.Rb1 0–0–0 17.e5! [E só agora é que percebi que a minha posição tem alguns problemas. O que me valeu é que ainda há muitos recursos para usar.]

17...Rb8 [Com a ideia de ocupar a coluna "c" com a torre no futuro para conseguir contrajogo.]

18.h4 [Inicia um plano de congestionamento da ala de rei. Uma ideia que faz sentido tendo em conta a personalidade do meu adversário.]

[18.f5 Seria mais direto mas não me convence. 18...Db6 Esta era uma das minhas ideias. A partir de b6 a dama pode ir rapidamente a c7 ou a5, as casas mais importantes para obter contrajogo. 19.Be4 Dc7 20.The1 d5 21.exd6 Bxd6„ Com grande contrajogo. 22.Dxg7 b4 23.Ca4 exf5 24.Bxf5 Thg8 Os bispos dominam o tabuleiro. Na partida o que eu procurava sempre era uma posição deste género. Além do mais como este tipo de posições é complicadíssimo e o meu adversário tinha muito pouco tempo (20 minutos aproximadamente ao lance 18) teria melhores chances do que aquelas que objetivamente existem.Algumas linhas modelo: 25.Df6 (25.Dxh6 Ce7 26.Cd4 Txg2 27.Be4 Bxe4 28.Txe4 Be5 29.Txe5 Txd4 30.Tc1 Dxe5 31.Db6+ Rc8 32.Dxa6+=) 25...Ce7 26.Td2 Cd5]

18...f5? [A ideia era complicar a posição ao máximo. Mas só depois me apercebi que o meu rei está em b8! Assim as brancas têm uma boa continuação. No entanto há bastante contrajogo quer no tabuleiro quer no relógio.]

[18...Db6 Teria sido mais correto. Faço um lance útil e só depois jogarei f5. d7–d6 está também nos planos. 19.a3 f5 20.exf6 gxf6 21.f5+ Dc7 É uma melhor versão que a da partida!]

19.exf6! [Único lance que pode incomodar as negras. Pode parecer horrivel para as negras caso as brancas deixem a estrutura fixa: peão em g7 atrasado, peão em d7 também atrasado, casa g6 fraquíssima. No entanto a casa g6 é inútil para qualquer peça branca e g7 defende-se com Bf8. f8 é das melhores casas para o meu bispo porque controla toda a diagonal até a3 ajudando em algum tipo de contrajogo nessa ala. Além do mais, caso as brancas capturem g7, g2 estará cronicamente fraco. Quanto ao peão d7, é simplesmente impossível atacá-lo.]

[19.h5 Db6 Impossível ser incomodado aqui.]

19...gxf6 20.f5+! Ra8 21.Be4?? [Gastou uns 15 minutos para fazer este lance perdedor. Incrivelmente eu pensei que fosse o melhor lance da posição porque qualquer das ações que eu tinha planeado (Bb4 ou Bc5) são agora más. Como na minha cabeça e na dele as brancas estavam por cima no jogo e o peão d7 esteve sempre atrasado e impossibilitado de avançar ambos falhamos a continuação 21... d5 que confere às negras uma vantagem quase decisiva!]

[21.The1 Bb4 22.fxe6 Dc5 23.Df4 (23.exd7 Bxc3 24.bxc3 Txd7 25.Rb2 Tc8 26.Df4 Ce5„) 23...Bxc3 24.bxc3 dxe6 25.Txe6 (25.Dxf6 Thf8 26.Dxe6 Dxc3 27.Db3 Dc5„) 25...Dxc3 26.Dxf6 Dxf6 27.Txf6 Cb4 Isto era o que eu tinha planeado jogar na partida em caso de The1. A vantagem branca existe mas acredito nos recursos das negras uma vez que a estrutura das brancas não me parece ideal. No entanto, acredito que o mais provável teria sido perder esta posição.; 21.fxe6 dxe6 22.The1 e5 23.Dg6 Bb4 24.Dxf6 Bxc3 25.bxc3 Dc5 26.Rb2 Tdf8 27.De6 Te8 28.Db3 Te7 Com as torres a dobrarem na coluna c há contrajogo mas não deve ser suficiente. Mas com o tempo que o meu adversário tinha há sempre possibilidades.]

21...Bc5?? [21...d5! 22.fxe6 Na análise da partida o meu adversário ficou chocado por ele ter falhado e por eu não ter jogado 21... d5. Ele ainda admitiu que ia jogar 22.fxe6 tendo compensação obscura pela peça. (22.Bd3 e5 Com um centro tão imponente, é uma questão de poucos lances para a vitória.) 22...dxe4 23.Cxe4 Be7 24.The1 f5 25.Cc3 Dc5 Claramente as negras estão ganhas.; 21...Bb4? Era uma das possibilidades que eu tinha em mente. 22.Bxc6 Bxc6 23.Cd4 Descartei 21...Bb4 devido a esta posição. Parecia-me melhor para as brancas sem qualquer tipo de confusão. 23...Db8 24.Dxb8+ (24.Dh3 exf5 25.Cxc6 dxc6 26.a3 Bxc3 27.Dxc3 Não queria jogar este tipo de posições mas,agora, analisando com mais cuidado não há muito que temer. 27...Td6 28.Thf1 Thd8 29.Txd6 Txd6 É dificil às brancas jogar para ganhar apesar de estarem melhores.; 24.Dg7 Tdg8 25.Dxf6 Bxc3 26.bxc3 Bxg2 27.The1 Dd8 28.Dxd8+ Txd8 29.fxe6 dxe6 30.Txe6 Bb7² Com chances de sobreviver.) 24...Rxb8 25.Cxc6+ dxc6 26.fxe6 Mas isto parece aguentar bem para as negras.]

22.fxe6 dxe6 23.Dg7? [Dá-me excelente compensação]

[23.Txd8+! Txd8 24.Dg6 Pensei que o meu adversário fosse jogar isto. Aqui tenho alguma compensação mas claramente menor que na partida. 24...f5 (24...b4 25.Dxf6! Be7 26.Dxe6! Td6 27.Dg8+ Td8 28.Dc4 bxc3 29.Bxc6 cxb2 30.Ce5 Db6 31.Tf1± As negras estão perdidas.) 25.Bxc6 Bxc6 26.Dxe6 Dc7 27.Dxh6 b4 28.Ce2± Não acredito nas negras mas o par de bispos e problemas no corredor do rei possibilitam algum tipo de truques.]

23...f5 24.Txd8+ Txd8 25.Bxc6 Bxc6 26.Dxh6 b4 27.Cd1?! [Quando vi este lance pensei que já estivesse a ficar melhor.]

[27.Ce2 Db6 28.Df6 (28.h5 Be4 De novo a compensação é total.) 28...Be4 Parecia-me que obtinha alguma compensação a nível prático. E pelos vistos confirma-se! 29.h5 Bg1!! 30.Txg1 Bxf3 31.Cc1 Be4 c2 está bastante fraco. As negras têm compensação em absoluto.]

27...Dd7 28.b3 a5? [28...Dxd1+!? Por momentos entusiasmei-me. Mas na partida decidi que não resultava. 29.Txd1 Txd1+ 30.Rb2 Bxf3 31.gxf3 Bd4+ 32.c3 bxc3+ 33.Rc2 Td2+ 34.Rc1 Com o meu tempo já a ficar bastante curto decidi parar aqui os meus cálculos e não vendo maneira convincente de continuar não optei por esta variante. No entanto a vitória das brancas parece inexistente! 34...e5 35.Dxa6+ Rb8 No entanto não encontro maneira de as brancas ganharem!! A única hipotética situação que consigo ver com vitória branca é um final de bispo e peão em e5 contra peões brancos em a,b,f e h 36.h5!? Defendendo a2 e colocando o peão mais próximo da promoção.

a) 36.Dd6+ Ra7 37.Dd7+ Rb6 38.Dxf5 Txa2 Aqui já é empate e a ideia de dar a dama pela torre já não resulta 39.De4 Defende e3 (39.h5 Be3+ 40.Rd1 c2+ 41.Dxc2 Txc2 42.Rxc2 Rc5 43.Rd3 Bf4 44.Re4 Rb4 45.h6= Com empate.) 39...Ta1+ 40.Rc2 Ta2+ 41.Rd3 Td2+ 42.Rc4 c2=;

b) 36.a4 Tg2 37.Dd6+ Ra7 38.Dd7+ Rb6 39.Dxf5 Be3+ 40.Rb1 Tb2+ 41.Ra1 Bd4 42.De6+ Ra5 43.Dc4 Txb3 44.Ra2 Tb4 45.Dc7+ Rxa4= Com o rei branco neste estado a vitória é impossível 46.Dc6+ Tb5 47.h5 Rb4=;

c) 36.f4 Th2=; 36...Th2 37.Dd6+ Rb7 38.Dd7+ Ra6 39.Dxf5 Be3+ 40.Rb1 Tb2+ (40...c2+?? 41.Dxc2 Txc2 42.Rxc2 Isto parece-me ser a única maneira de as brancas ganharem.) 41.Ra1 Bd4 42.Dc8+ (42.a4 c2=) 42...Rb6 43.h6 Th2= Com empate .Conclusão: grande recurso e que me parece ser bastante útil porque a maneira de sacrificar a dama e a posterior coordenação de peças negras deriva de um ataque típico, ou seja, há chances de que se origine uma posição onde este sacríficio é possível.; 28...Be4!? Nas condições em que decorriam a partida este deveria ser um lance bastante interessante. 29.Cb2 Dc6 É uma tentativa de manter a pressão em apuros de tempo. Existe compensação e deverá ser suficiente. 30.Tc1 Tg8 31.Ce5 Dd5 32.Ced3 Bd4 = jogo confuso ; 28...Bf8! Outro lance que me dá compensação absoluta. 29.Dc1 Bg7 Até posso ganhar esta posição.]

29.Cb2! [Agora as brancas devem defender facilmente.]

29...Bf8 [Procurando atacar na grande diagonal]

30.De3! Bg7 31.Db6 Bxf3 [Bluff. A ideia é que o meu adversário com cerca de 1 minuto no relógio tinha agora de escolher entre comer um peão com xeque ou ir buscar a peça diretamente. A sorte estava do meu lado e ele enganou-se.]

32.Dxa5+?? Rb8! [E aqui já estava contente de novo. Já sabia que no mínimo tinha empate.]

33.gxf3 [33.Dxb4+ Bb7 Esta é a ideia que provavelmente escapou ao meu adversário. Com tão pouco tempo é compreensível.]

33...Dd4 34.Db5+ Ra7 35.Da5+ Rb7 36.c3 [Após dar uns xeques e ganhar uns segundos no relógio ele decidiu "jogar para ganhar". Aqui Dxc3 obriga-o a dar perpétuo. No entanto como ele tinha tão pouco tempo e não vi nada de errado com dxc3 (ele pode dar perpétuo ou continuar a jogar) decidi experimentar este último na tentativa que ele forçasse em demasia.]

36...bxc3 [36...Dxc3=]

37.Db5+ Ra7 38.Tc1 Dd2 39.Da5+ Rb7 40.Db5+ Ra7 41.Ca4 [Aqui vi que Dd3 leva a um final empatado. Mas também estando eu nos apuros não vi nada de errado com 41...Tc8. Ao fim de contas defende c3 e ameaça c3–c2]

41...Tc8?? [41...Dd3+ 42.Dxd3 Txd3 43.f4 Th3 44.Td1 Bf6 45.Td7+ Rb8 46.Td6 Txh4 47.Txe6 Bd4 48.Tc6 Rb7 49.Tc4 Th1+ 50.Rc2 Th2+ 51.Rd1 Th1+ 52.Rc2 Th2+ 53.Rd1=]

42.Db6+ Ra8 43.Da6+ Rb8 44.Db5+?? [44.Db6+ Ra8 45.Da5+ Rb7 46.Db4+ De seguida jogando De7+ com vantagem decisiva. O meu adversário logo que a partida acabou mostrou-me esta continuação. Ele viu e não jogou. Eu não quis acreditar. Só fiquei convencido na sala de análises. Ainda hoje não percebo como é possível ele não ter jogado uma linha que ganha e que ainda por cima ele viu. A única justificação que me parece plausível é o facto de ele pensar que a posição dava para repetir e assim ganhava a peça com uns segundos extra no relógio.]

44...Rc7! 45.Cc5?? [Nada a dizer. O xadrez é um jogo de emoções e ele não conseguiu controlar-se.]

[45.Db6+ Rd7 46.Db7+ Tc7 47.Cb6+ Rd6 48.Cc4+ Txc4 49.bxc4 c2+ 50.Txc2 Dd1+ 51.Tc1 Dd3+ 52.Tc2 Dd1+ 53.Tc1 Dd3+ 54.Tc2 Dd1+; 45.Df1 Rd8 46.Tc2 Dd4 47.Df2 Dd1+ 48.Tc1 Dd3+ 49.Tc2 Re7 50.h5 Be5 51.De2 Dd4 52.a3 Rf6 53.h6 Th8 54.Cxc3 Txh6 55.Rb2 Th3=]

45...Db2# [Após resolver de maneira adequada os problemas que me foram colocados na fase inicial da partida, relaxei a pensar que o perigo já tinha passado. No entanto, o meu adversário criou ameaças posicionais e com medidas adequadas consegui manter a posição bastante confusa. Tive oportunidades nessa fase de levar a posição a um equilibrio ou até à minha vantagem e por vezes as decisões foram para lances duvidosos mantendo as posições objetivamente pior para mim. O meu adversário nos apuros de tempo tambémm não conseguiu navegar nas complicações e acabou perdendo, após fazer vários lances num estado de completo nervosismo. Cheguei a pensar que ele ia ter algum problema cardíaco na fase final da partida! Felizmente acabou tudo bem, tendo o meu adversário ficado bem e eu ganho o ponto.
0-1

Depois deste jogo senti que a sorte estava realmente do meu lado. Com este sentimento fui com uma energia extra para as duas últimas jornadas. Tinha de fazer 1 ponto em 2 jogos para obter a norma de Mestre Internacional! De que maneira decorreram os jogos? Não percam a última parte desta crónica!... :)