2007/01/18

XLVI

ENTREVISTA (IV)


O nosso quarto convidado é a Mestre Fide Feminina Ariana Pintor.

O Xadrez revelou desde sempre uma hegemonia e domínio por parte dos homens. No entanto, as mulheres começam cada vez mais a impôr-se neste magnífico desporto que é o Xadrez. Ariana Pintor é um dos exemplos no nosso panorama nacional escaquístico começando a espalhar o seu perfume além fronteiras desde muito cedo com a participação nos campeonatos do Mundo femininos de sub-10 (1998), sub-12 (1999,2000), sub-14 (2001), sub-16 (2003), sub-18 (2005), campeonato da Europa feminino de sub-14 (2002), campeonato da União Europeia de sub-16 (2004).


A nível nacional tem um curriculo recheadíssimo:

Campeã nacional feminina de sub-10 (1998), sub-12 (1999,2000), sub-14 (2002), sub-16(2003,2004), sub-18(2005,2006)Vice-campeã nacional absoluta de sub-16 (2004) e sub-18 (2005)Vice-campeã nacional feminina (2006)


Representa o 3º tabuleiro da Selecção Nacional Feminina de Xadrez (Olímpiadas de Calvia-2004, e Turim-2006) e a nível de clubes "veste" a camisola do Grupo de Xadrez do Porto desde 2005 onde é 4º tabuleiro.

Perfil

Nome Completo: Ariana Maciel Abranches Pintor
Data de nascimento: 05/04/1988
Formação: Estudante de Engenharia do Ambiente na FEUP (2º ano)
Clube: Grupo de Xadrez do Porto (www.gxp.pt)
Rating internacional: 2077



"...um dia mais tarde gostava de dar aulas, partilhar o gosto pelo xadrez..."



"...admiro a Judit Polgar porque representa um exemplo de como as mulheres podem competir lado a lado com os homens."



Conta-nos como aconteceu a descoberta do Xadrez. Quem te despertou o interesse para o mundo mágico das 64 casas?
A princípio, foi o meu pai que me ensinou a jogar, em casa, quando eu tinha cerca de 5 anos. Depois, com 8 anos, surgiu a oportunidade de eu começar a jogar nos Gambozinos, onde eu já aprendia música… Nesse primeiro ano joguei o distrital de sub-10 feminino no Porto, ganhei e no nacional fiquei em 3º. Foi um grande incentivo, e nos Gambozinos havia um óptimo ambiente, os nossos treinadores (o Rui Pereira e o Rui Almeida) motivavam-nos para o xadrez e para a competição.
Depois desta fase inicial, como foram os primeiros passos no sentido de melhorares o teu xadrez?
Tive aulas nos Gambozinos, inicialmente com o Rui Pereira e mais tarde com o Rui Almeida. Também comecei a ver mais partidas, e a dar uma espreitadela nos livros… E a partir daí também comecei a jogar em mais competições.


E as competições? Fala-nos um pouco dos eventos mais relevantes em que já participaste.
As competições mais importantes em que participei foram sem dúvida as Olimpíadas, em Calvià (2004) e em Turim (2006). A Olimpíada é um momento marcante para qualquer jogador, porque de repente, estamos a jogar na mesma sala com os melhores do mundo, e contactamos com pessoas de todos os países. Penso que se pode comparar a um atleta de outra modalidade, quando participa nuns Jogos Olímpicos. Para além disso, como é uma prova colectiva, dá-nos uma sensação mais forte de estar colectivamente a fazer o maior esforço para representar bem o nosso país.
Participei ainda em competições internacionais de jovens, sendo que talvez a mais relevante para mim foi o Europeu de sub-14 feminino em Peníscola (2002), pois foi um torneio que, na altura, me ajudou muito a ganhar mais confiança no meu jogo. Os Opens em Cappelle la Grande e em Benidorm, em 2006, bem como recentemente o Fechado de Categoria III em Mondariz, também foram muito importantes para a minha evolução pois foram competições muito fortes.
Dentro do nosso país, a prova mais relevante que joguei foi a 1ª Divisão em 2005. Foi um torneio que me fez aprender bastante, pois foi o primeiro torneio em que joguei quase só com jogadores acima do meu nível.

Como manténs o teu nível técnico?
Até entrar para a faculdade tinha aulas todas as semanas. Agora é um pouco mais complicado, mas quando tenho menos trabalho, analiso as minhas partidas, com a ajuda do computador, estudo um pouco de aberturas, faço exercícios de combinações, jogo na Internet…

Qual o livro que consideras fundamental para um bom jogador de xadrez?
Não leio muitos livros, mas penso que o “My System” do Nimzowitsch é muito importante para ter bons conceitos posicionais sobre o jogo. A nível de finais, penso que o livro essencial é o “Fundamentos de Finais” do Pachman.

De que maneira definirias o teu estilo de jogo?
Depende muito dos dias, pois tento jogar os melhores lances, independentemente do estilo. Mas na maior parte dos casos acho que sou agressiva e até um bocadinho arriscada. Não consigo resistir a uma combinação bonita… o problema é que nem sempre dão resultado…

Quais os principais resultados de tua carreira?
O resultado mais marcante para mim foi na Olimpíada de Calvià, em 2004, pois fiz 6,5/9 nos primeiros 9 jogos (acabei com 6,5/11) o que me permitiu ganhar o título de Mestre FIDE Feminina.
Os títulos nacionais que considero mais importantes para mim foram os de vice-campeã absoluta de sub-16 e sub-18 em 2004 e 2005, principalmente o primeiro pois nesse ano empenhei-me bastante para tentar conseguir algo mais do que o título feminino…
Mais recentemente, o título de vice-campeã feminina, a preliminar do Campeonato Nacional e o Open de Benidorm foram os meus melhores resultados.

Quais os objectivos no xadrez para este ano e projectos a longo prazo?
Para este ano o meu objectivo é continuar a jogar e subir um pouco no elo. Também vou tentar disputar os títulos de sub-20 e do campeonato nacional feminino. No colectivo, gostava que a minha equipa (GX Porto) subisse novamente à 1ª Divisão, e, quem sabe, voltar a ser finalista da Taça … :)
A longo prazo, o meu objectivo é um dia conseguir o título de Mestre Internacional Feminina, embora esse não seja um objectivo concreto neste momento. Também um dia mais tarde gostava de dar aulas, partilhar o gosto pelo xadrez…

Quem são os teus jogadores preferidos? No passado e no presente...
Gosto muito das partidas do Tal e do Shirov, porque são muito criativas e agressivas. A nível de atitude, dentro e fora do tabuleiro, admiro a Judit Polgar porque representa um exemplo de como as mulheres podem competir lado a lado com os homens.


Ariana Pintor mostra-nos o seu Prémio de Beleza disputado recentemente no Open de Benidorm.


(1) Ballesteros,D (2217) - Pintor,A (2093) [E90]


Open de Benidorm Benidorm (5.14), 05.12.2006


1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 Bg7 4.e4 d6 5.Cf3 0-0 6.h3 e5 7.dxe5 A variante das trocas não é muito promissora para as Brancas na Índia de Rei, no entanto se as Pretas não souberem como jogar, podem-se colocar numa posição difícil. 7...dxe5 8.Dxd8 Txd8 9.Bg5 Te8 10.0-0-0 [10.Cd5 Cxd5 11.cxd5 c6 12.Bc4 cxd5 13.Bxd5 Cd7= é a linha principal, onde as Pretas conseguem uma posição igualada] 10...Ca6 Defendendo c7 e controlando c5. 11.Be3 c6 12.g4 Este lance talvez não faça muito sentido no contexto da posição. Com a coluna d aberta e sem damas é difícil acreditar que as Brancas consigam atacar o roque Preto. Penso que seria melhor prosseguir com 12.Be2, e talvez tentar dobrar torres na coluna-d, se bem que as Pretas talvez já tenham conseguido igualar. 12...Be6?! Talvez fosse melhor 12. ...h6, esperando que as Brancas definam o seu plano. 13.c5 [13.Cxe5!? Cxe4 14.Cxe4 Bxe5 15.Be2 b6 16.The1 Tad8 Penso que seria melhor para as Brancas, dando algum sentido ao avanço dos peões na ala de rei.] 13...Cc7 14.Rb1 Tab8!? O mais normal aqui seria 14. ... Tad8 ou 14.... Ted8, para ocupar a coluna, no entanto penso que o plano de tentar abrir colunas para tentar aproveitar a posição do rei branco pode ser interessante. 15.Cd2 O plano das Brancas é tentar chegar com o cavalo a d6, no entanto as Pretas são mais rápidas a reagir. 15...b5 Seguindo com o plano. 16.cxb6 axb6 17.b4?! Fragiliza a posição do rei. Teria sido melhor 17. Bc4, ou 17. Be2, tentando prosseguir com o desenvolvimento. 17...Bf8 18.a3 b5 Controlando as casas c4 e a4, e criando uma debilidade em a3. Também há a ideia de romper com ...c5 se tal for possível. 19.Ca2? [19.Cf3 Ta8 20.Rb2 Cd7 21.Cg5 Ted8= Era uma continuação possível, na qual as Brancas criam alguns problemas às Pretas de modo a que não possam aproveitar a fragilidade do seu rei.] 19...Ta8! 20.Bb6 [Tentando alguma coisa, visto que as Brancas já se encontram em grande desvantagem. Se 20.Rb2 Bxa2 21.g5 Cfd5 22.exd5 Bxd5-+] 20...Txa3 21.Bxc7 Bxa2+ 22.Rb2 Bxb4 23.g5 [Agora 23.Ta1 falha por 23...Bc3+!] 23...Bc3+! 24.Rc2 [24.Rxa3 Ta8+ 25.Ba5 Txa5#] 24...Bd4 25.gxf6 Tc3+ 26.Rb2 Txh3+ 27.Rxa2 Ta8+ [As Brancas desistiram em virtude de 27...Ta8+ 28.Rb1 Ta1+ 29.Rc2 Tc3+ 30.Rb2 Tca3+ 31.Rc2 T3a2+ 32.Rd3 Txd1-+] 0-1


23...Bc3+! destrói por completo as "esperanças" das brancas