2013/08/20

DLXIV

XV OBERT INTERNACIONAL SANT MARTÍ
CRÓNICA DE LUÍS SILVA

PARTE II


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Soluções aos exercícios (PARTE I):

EXERCÍCIO 1: 9.a4! Agora as negras dificilmente conseguem avançar com c6-c5 e caso joguem b5-b4 o Cb1 dirige-se a c4 a partir de d2. A partida seguiu 9…Db6 10.De2! (pressionando b5)  10…Cbd7 11.e4 e a posição das negras é bastante desconfortável.

EXERCÍCIO 2: 12…dxe4! (12…Cd4!? Foi considerado durante muito tempo. Era interessante mas aí ficava com material a menos e apesar de haver compensação absoluta penso que não é tão perigoso para o adversário como a continuação da partida) 13.dxe4 Cd4! 14.Dd3! Tfd8 com alguma pressão.
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Para a terceira ronda iria defrontar o poderossísimo IM Asis Hipólito. Além de jovem, é um jogador em clara ascensão tendo já uma norma de Grande Mestre. A minha preparação para esta partida passou por rever algumas das ideias que eu já tinha previamente analisado. Um jogador deve ter sempre ideias bem definidas antes do torneio porque, preparar algo de raíz antes de uma partida é uma tarefa muito cansativa onde se perde energia que é essencial para o jogo. No Europeu de Jovens de 2011 preparava durante toda a manhã e, sem surpresa, chegava ao jogo completamente desgastado e a preparação de pouco servia. Então, para esta terceira ronda em Barcelona, revi umas ideias, dei um breve passeio pela cidade e relaxei. A caminho da sala do torneio ouvi umas músicas da minha banda preferida (AC/DC) para estar num espiríto mais animado. Sentei-me no tabuleiro, mas nunca antes de ir comprar uma garrafa de 1,5L de água ao bar do torneio. Jogamos uma Benoni Moderna, onde eu não estava muito por dentro dos planos mais raros (admito que as minhas preparações caseiras nesta abertura não foram muito fundas). Reagi mal e ele ficou ganho. No entanto, a concretização do meu adversário deixou muito a desejar. Num final perdido, o meu adversário facilitou bastante e chegamos a uma posição onde eu sabia que o resultado era empate e onde eu sabia qual o conceito do empate! O problema é que o relógio conta e, tendo-me o fator tempo dado muita ajuda em algumas partidas deste torneio, nesta aconteceu que não fui rápido o suficiente a descobrir qual a melhor maneira de executar a ideia que empata a partida.

EXERCÍCIO 3- Esta é a posição onde as brancas conseguem o empate. Será que consegues descobrir?

Triste por não ter empatado o que sabia que era empate, fui afogar as mágoas... Comendo uma waffle com gelado! Geralmente uma boa dose de açúcar anima um mau espiríto e, assim sendo, não perdi muito tempo para apanhar o metro em direção à Sagrada Família onde sabia que havia gelatarias. 
Vista para a Sagrada Família da Gelataria  onde recarreguei energias...
Revelou-se uma imagem inspiradora!

Com uma mentalidade mais positiva regressei ao hostel, peguei no computador e fui à sala de convívio ver com quem jogava. E mais um Mestre Internacional! Desta feita o venezuelano Jose Sequera Paolini. Na altura comecei a pensar na minha má sorte em estar a jogar sucessivamente contra adversários superiores a mim, isto porque, estas partidas exigem um esforço tremendo! Felizmente lembrei-me de algo que o Mestre Internacional Sérgio Rocha tinha dito no dia da última ronda do VI Torneio Internacional Cidade de Gaia sobre uma experiência pessoal num Europeu de Séniores: “Em alta competição não há descanso. É sempre um adversário díficil atrás do outro mesmo que percamos.” Comecei a refletir nestas palavras e decidi que a minha tarefa tinha de ser apenas a de manter-me resistente física e psicologicamente, focar-me na partida e nunca começar a pensar em azar ou sorte no emparceiramento. Aliás, se me queixo que em Portugal não tenho a oportunidade de contactar com um nível destes e, considerando que vim para Barcelona com o objetivo de obter essa experiência, não estava a ser nada racional. Desfeitas quaisquer complicações, comecei uma leve preparação noturna. Apenas vi o que ele jogava, para que assim na manhã do dia seguinte tivesse o trabalho já orientado. Sendo ele jogador de 1.e4 e de siciliana aberta, estava eu pronto para jogar a minha Najdorf. De manhã preparei-me contra 6.Bg5,6.Be3,6.h3,6.Be2,6.Bc4. Na partida aconteceu 6.f4! Foi uma completa surpresa. No entanto, lembrava-me vagamente de umas análises já feitas há algum tempo e consegui ir jogando a linha principal.

EXERCÍCIO 4- Esta posição originou-se a partir de um dos lances principais 13…Bh5 (13..Te8 e 13…Tc8 são as outras opções) e,posteriormente, pelo raro 14.Ch4!? Aqui gastei 50 minutos a tentar descobrir a melhor maneira de resolver os meus problemas. Joguei 14…Cd5 que não é grande coisa. Qual será a melhor continuação?

Após eu ter falhado a melhor linha, o meu adversário também não aproveitou da melhor maneira. Apesar de toda a aflição com que vivi o resto da partida, devido aos enormes apuros de tempo, consegui manter um bom nível e não cometi erros de maior. No fim tive uma das minhas melhores sessões de análise até hoje. Ao longo do torneio mantivemos sempre conversa e ainda presenciei algumas análises de outras partidas que ele fez.  Além de tudo isto, o empate deu-me uma grande motivação. Estas partidas onde o resultado exigiu bastante esforço mostram sinais de combatividade e dão-nos um prazer especial.
Para a quinta ronda estava previsto jogar de brancas contra o Mestre FIDE David Eggleston da Inglaterra. Pelo que vi das partidas dele, parecia ser um jogador de excelente nível. Muito experiente a jogar contra mestres de 2400-2500 de Elo, possuidor de um excelente conhecimento do seu reportório e ainda por cima de um bastante semelhante ao meu! (É sempre muito difícil jogar contra as nossas aberturas preferidas). A minha tarefa avizinhava-se complicada. A minha estratégia passava por manter a vantagem, mesmo sendo mínima, de uma maneira controlada. Assim só seria possível jogar ou para a minha vitória ou para o empate. A partida foi uma linha da Índia de Dama onde apenas por algo descomunal as brancas perdem. Ele jogou uma variante obscura e com uma série de excelentes lances consegui refutar o seu conceito ficando numa posição ganha. A posição abaixo dá início à sequência de lances que colocam um ponto de interrogação no conceito negro.


EXERCÍCIO 5- Qual o lance que coloca em questão o conceito das negras?


No fim descontrolei a situação e ele teve hipóteses de empatar. Felizmente não calculou a maneira de conseguir repartir o ponto e perdeu. Uma excelente partida do ponto de vista estratégico!
E assim o torneio ia a correr às mil maravilhas! O que reservariam as próximas sessões?

2 Comments:

Anonymous Simão Serrano said...

Podia dizer tudo e mais alguma coisa, mas acho que o mais importante é : Se não tiveres sucesso no xadrez nem na medicina, sempre tens a escrita! Ahahah continua, isto deixa um gajo a espera da próxima parte. E agora, um apelo aos comentários por parte do pessoal do facebook que está a ler isto que estou a escrever e finge que não viu nada... Sim pa, eu também sou assim ahah. É só 1 min que perdem, dêem largas à imaginação! Também queria dar os parabéns ao Didaxis por formar bons jogadores, abraço

agosto 21, 2013  
Blogger José Cavadas said...

Luis!
Parabéns pela tua experiência! Deixo aqui um desafio! Compila esta experiência e faz um livro ! Espero ansiosamente pela parte III... VI... Abraço Amigo
José Cavadas

agosto 21, 2013  

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